quinta-feira, 12 de julho de 2007

Sente e espere... ... ... ... ... ...

Por Tato Nagoya e Rafael Thomé


O que fazer quando você trabalha até ficar exausto e mesmo assim não consegue alimentar a sua família? É aceitável que pessoas morram de frio na rua ao mesmo tempo em que outras estão no conforto ostensivo de suas mansões? Um continente inteiro deve ser dizimado para garantir as riquezas dos mal-acostumados do primeiro mundo? O que fazer para combater esses absurdos? A sociedade brasileira tem a resposta: nada.
A apatia, somada à omissão, é o grande mal do mundo contemporâneo. A desigualdade social é clara e gritante. Todo mundo já cansou de ouvir, ler e comprovar que existe uma minoria que comanda e a maioria obedece. A grande incógnita é porque se resignar se é essa mesma maioria que sofre diariamente. Nas cidades, as pessoas seguem conformadas os seus caminhos de casa para o trabalho e vice-versa, se espremendo diariamente nos transportes público como um rebanho. Já no campo, são os rebanhos que ocupam milhões de hectares, enquanto o proletário rural trabalha em condições precárias em terras alheias, ou não podem trabalhar.
Já faz muito tempo que essa é a realidade, porém nas últimas décadas somente o pior é esperado. O mal que o ser humano causou para os semelhantes e para o planeta no último milênio será multiplicado várias vezes em apenas décadas. Quanto mais o tempo avança mais rápidas as mudanças acontecem. O pior é que cada vez menos pessoas percebem o mal que essas mudanças estão causando.
Tudo é veloz. O lerdo se tornou obsoleto. Esperar incomoda. Eficiência e rapidez são as novas palavras de ordem. A tecnologia é a matriz da globalização. A revolução tecnológica permite estar em diferentes lugares ao mesmo tempo, fazer milhares de tarefas em apenas algumas horas. Porém quanto mais rápida as coisas são, menos tempo as pessoas têm. Essa estranha contradição é a base principal da apatia.
As invenções que, em suas origens, foram criadas para facilitar a vida do homem provocaram o efeito contrário. Em vez de ajudar nos problemas básicos, proporcionando mais tempo para a reflexão e para as relações sociais, a tecnologia fez do seu criador, escravo. A homem depende da tecnologia. Não sobra tempo para pensar, protestar e agir, só resta a aceitação e o conformismo. Muitas vezes, a minoria que quer mudança também não encontra tempo para a luta.
A cabeça baixa e o silêncio dos explorados é benéfico para a elite, que, ao contrário, se articula muito bem para manter o situação da maneira que está. É totalmente aceitável que aqueles que se beneficiam lutem para se manter no poder, porém é difícil entender porque aqueles que não usufruem se mantêm calados. Mais um ponto para os esforços da elite, que aprendeu direitinho como manipular as massas, jogando as migalhas para o povão.
A tecnologia foi criada e aperfeiçoada em um mundo movido pelo dinheiro. Por isso, como não poderia ser diferente, foram os poderosos que se apropriaram desses avanços. O telefone celular é um ótimo exemplo. No início, somente a elite possuía. Com o passar do tempo e com o avanço da tecnologia a elite usa aparelhos mais sofisticados, deixando modelos mais modestos ao alcance a todos.
A busca pelo lucro a qualquer custo e o mais rápido possível torna gananciosa a mentalidade das pessoas. A ganância é cega. O cego não enxerga o que está na sua frente. E é por isso que as futuras gerações viverão em um mundo mais absurdo do que o atual. É preciso, urgentemente, tirar a bitola e começar a visualizar o futuro, não o próprio, mas da humanidade. (Futuro da humanidade? Que piada! A humanidade segue um caminho linear: o fim.)
A cegueira, muitas vezes fruto do consumismo exaltado pelo "capetalismo", onde a mercadoria é quase um espetáculo, como diz Guy Debord, transformada em fetiches altamente sedutores, mantém a grande massa frustrada com o que tem (ou que não tem). Isso garante a população trabalhando, batalhando, não só para sobreviver, mas para comprar carros, apartamentos, e coisas menores, parcelando o pagamento durante anos ou se endividando até as calças.
As pessoas querem se diferenciar dos outros, desde muito tempo. Por exemplo, na Idade Média toda a população comia com as mãos, até que a nobreza passou a usar talheres para diferenciar-se do povo. Hoje não é diferente, a aparência vale mais que a essência do indivíduo. Porém, nesse sistema não basta ter um celular ou um carro, é preciso ter alguns dos modelos mais novos, porque um só é pouco. Aqui, o excesso é o que interessa! Um carro muita gente tem, mas eu tenho quatro e um deles é conversível, otário!
Para garantir o sucesso – leia-se poder, dinheiro e bens materiais – o que fazer? A resposta é simples: me, myself and I. Eu, eu, eu, eu e eu. Manipulados e acreditando que o importante é ter, as pessoas se tornam individualistas sem individualidade. Assim uma competição acirrada começa. Vamos ver quem fatura o meio milhão. Enquanto isso, a elite assiste a tudo sentada no seu luxuoso sofá. Uma mão segurando o controle remoto e a outra coçando o saco. “Se matem, destruam-se, eu quero é ver sangue”.
Calma, amigo, para que tanta revolta? O mundo é assim mesmo. Não vai ser você que vai conseguir mudar. Está reclamando de que? Você tem casa, comida e roupa lavada. Quer mais o que? Tem gente morrendo de fome e você aí de barriga cheia. Rebelde sem causa. Mal agradecido. Vai trabalhar vagabundo!